Atualmente, o GPP desenvolve uma pesquisa sobre o ato de fala do pedido, investigado em perspectiva cross-cultural a partir das seguintes línguas e variedades: português brasileiro (BRA), português europeu (POR), italiano (ITA), espanhol argentino (ARG), espanhol chileno (CHI), espanhol uruguaio (URU) e espanhol peninsular (ESP), alemão (ALE), inglês estadunidense (EUA), japonês (JAP), chinês (CHN) e russo (RUS).
O projeto, intitulado “O ato de fala do pedido na perspectiva da Pragmática contrastiva: uma abordagem plurilíngue e multicultural", é financiado pela FAPESP (processo n. 2022/05865-9) e recebeu também um financiamento no âmbito da Chamada Universal do CNPq (processo n. 409716/2021-9).
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Por que estudamos pedidos?
Estudamos pedidos porque, nas nossas vidas, eles estão entre os atos de fala mais frequentes: pedimos coisas emprestadas, pedimos ajuda, pedimos um favor a amigos ou familiares… Por isso, podemos dizer que se trata de um “ato social básico”, que está, inclusive, entre os primeiros que aprendemos a fazer.
Além da elevada frequência com que pedidos ocorrem na vida cotidiana, esse ato de fala foi escolhido por, ao menos, mais dois motivos: (1) pela forte influência de fatores contextuais e socioculturais envolvidos na sua realização; (2) pelo fato de o pedido estar entre os atos de fala mais investigados desde os primeiros estudos que adotaram uma perspectiva semelhante à do grupo, como no caso do projeto CCSARP (Cross-Cultural Speech Act Realization Patterns) de Blum-Kulka, House e Kasper (1989).
Ora, é importante pensar que cada pedido pode ser feito e percebido de maneira diferente dependendo do contexto (a quem pedimos, o que pedimos, onde pedimos, etc.) e, mais ainda, da língua e da cultura, no âmbito das quais é realizado.
O interesse do GPP está essencialmente aí:​

buscar recorrências, convergências e divergências na realização de pedidos em diferentes línguas e variedades - incluindo línguas não hegemônicas - pode abrir caminhos para um melhor entendimento não apenas dos próprios pedidos, mas também dos valores culturais associados às formas de sua realização.
O pedido é uma tentativa de induzir o interlocutor a realizar uma ação em benefício do falante. Trata-se de um Face Threatening Act (FTA) ou seja um “ato ameaçador da face”, na terminologia de Brown e Levinson (1987), pois ameaça a imagem do falante e a sua aceitação pelo interlocutor e/ou pela comunidade (a dita “face positiva”) e, simultaneamente, ameaça a liberdade do interlocutor (a dita “face negativa”), o qual pode, em maior ou menor medida, se sentir obrigado a atender ao pedido.
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Como dissemos na seção “Por que estudamos pedidos?”, os pedidos variam de acordo com o contexto. Em especial, na pesquisa do GPP, são consideradas duas variáveis (Brown; Levinson, 1987):


(1) a distância social (DS), isto é, a relação existente entre as pessoas que interagem no momento de realizar um pedido;
(2) o grau de imposição (GI), que é o “grau de dificuldade” do pedido, medido com base na relação custo/benefício.
É evidente que o modo como formulamos um pedido muda se estamos falando com um/a amigo/a ou com um desconhecido, assim como se queremos, por exemplo, um copo d’água ou um celular emprestado.
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Por isso, na elaboração de cada um dos instrumentos de coleta de dados (ver “A metodologia de coleta dos dados do GPP” [hiperlink]), DS e GI foram as duas variáveis manipuladas (variáveis independentes).
Há, por isso, um número igual de situações com um grau de imposição alto (GI↑) ou baixo (GI↓), dependendo do tamanho do “custo” que os pedidos requerem. Do mesmo modo, é previsto o mesmo número de situações com uma distância social alta (DS↑) ou baixa (DS↓), determinada com base no nível de familiaridade entre os participantes.





